Estava vendo umas fotos velhas e acabei esbarrando com as ruas de florianópolis tomadas de gente. Em 2004, “invadimos” a ponte no que pareceu ser um passeio extravagante. O contexto político pré-eleição municipal aliado ao inusitado do ato foi o que, na minha opinião, tornou aquele protesto possível. Já em 2005, com a entrada de Dário Berguer, declarando coisas como “ninguém vai mijar na minha perna”, referindo-se carinhosamente à efetividade dos protestos contra o aumento da tarifa, e sua aliança com o governo estadual de Luiz Henrique fez com que um contingente policial imenso fosse transladado de toda Santa Catarina e concentrado na ilha para conter a galera. O cenário de guerras estava montado: o choque já não era novidade devido às manifestações contra o relógio dos 500 anos da globo (onde muita gente saiu ferida quando a polícia defendeu algo tão idiota quanto o boneco da copa em Porto Alegre em 2014), porém desta vez apareceu a cavalaria e os cachorros, junto com um carrinho blindado.
Pra quem esteve lá ou viu os relatos da época, houve bastante depredação como resposta à violência policial. Teve dias em que a desproporção entre manifestantes e policiais chegava a ser ridícula: 3000 fardados contra 300 indignados. Mesmo assim, cada quinta-feira foi maior que a outra, havendo um período de um mês de intensas atividades de rua. (Inclusive a tentativa de atear fogo na antiga Câmara de Vereadores, que poderia ter justificado essa reforma que já dura quase 10 anos!). Havia bloqueios dos terminais de integração e também catracassos em vários lugares da ilha, onde se abria as portas dos ônibus para a galera entrar de graça. Como resultado político mais visível, o aumento foi revogado. Como resultado político geral (incluindo 2004), muita gente aprendeu o que é um protesto de rua e como lidar com esse tipo de situação, e a discussão sobre transporte ganhou um destaque que dura até os dias de hoje.
É curioso notar a qualidade das imagens das câmeras que tínhamos na época. Lembro que em 2004 estava usando uma câmera analógica! Em 2005, a intensidade dos confrontos exigia certa atenção especial, o que dificultava ficar parado tirando fotos.
Aí estão.
Quem quiser ver mais informações, segue uns links:
Editoriais do CMI sobre as Revoltas da Catraca,
livro “A Guerra da Tarifa em 2005“, de Leo Vinícius