Florianópolis protesta contra a Reforma da Previdência [Catarinas] 15/03

Replicação de: http://catarinas.info/florianopolis-protesta-contra-reforma-da-previdencia/

“Nenhum direito a menos e Fora Temer” foram as frases mais ouvidas pelas ruas de Florianópolis, durante toda esta quarta-feira (15), Dia Nacional de Paralisação contra a Reforma da Previdência, convocado pelas centrais sindicais brasileiras e organizado, em Santa Catarina, pelo Fórum de Lutas em Defesa de Direitos. Mobilizações em locais de trabalho, diálogo com a população, assembleias de categorias e protestos compuseram a agenda de sindicatos e movimentos sociais que se empenham em denunciar as reformas da previdência e trabalhista que tramitam no Congresso Nacional.

O ato unificado reuniu, segundo a organização, cerca de 10 mil pessoas que marcharam pelas ruas do centro da capital, exigindo que a reforma não seja aprovada pela Câmara Federal. Pelo menos dez categorias do serviço público municipal, estadual e federal, além de trabalhadores do setor privado participaram dos protestos. Servidores  da educação estadual realizaram assembleia para discutir uma possível greve e trabalhadores do transporte urbano paralisaram suas atividades das 16h às 18h. A manifestação também contou com diversas organizações do movimento sociais e as centrais sindicais CUT, CSP/Conlutas, CTB, Intersindical e UGT.

A marcha saiu da “praça do Sintraturb”, próxima ao Terminal Integrado do Centro (Ticen), subiu a praça XV e seguiu pela ruas Tenente Silveira e Álvaro de Carvalho até chegar à avenida Paulo Fontes. A partir desse ponto, os manifestantes se posicionaram em direção à ponte Pedro Ivo. Sob chuva forte, a Polícia Militar formou uma barreira que impediu o acesso a ponte e houve tumulto. Depois de negociações, a marcha seguiu para o Ticen, onde o ato foi encerrado.

“Foi um ato lindo, com muita adesão. É importante dizer que não só os sindicatos devem se mobilizar, mas o Fórum de Lutas se propõe a ampliar essa discussão com outros movimentos. A campanha do Fórum busca chegar a toda a população, as pessoas que serão diretamente atingidas. Ontem foi uma marco para essa resistência, 8 de março também foi e acredito que agora é ampliar e dialogar com o povo. Os movimentos precisam se organizar para derrotarmos essas contrarreformas que retiram direitos da população mais pobre”, aponta Edileuza Fortuna, servidora pública estadual e presidenta do Sindicato de Trabalhadores em Saúde de Santa Catarina (SindSaúde/SC).

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Manifestantes negociam com a PM/Foto: Catarinas

As mulheres tiveram destaque nas mobilizações deste dia 15. Não à toa. Para a ativista social e integrante do Bloco das Mulheres contra a Reforma da Previdência, Elaine Sallas, são elas as mais afetadas. O bloco, organizado pelo coletivo 8M de Florianópolis, reuniu ativistas dos movimentos feministas que se somaram aos protestos.

“O protagonismo feminino nas lutas não é de hoje, mas tem despontado a cada nova batalha. No caso da reforma da previdência, o fato de termos a tripla jornada com trabalhos formais, informais e domésticos nos afeta diretamente. A necessidade de contribuir 49 anos para obter 100% da aposentadoria é um absurdo para qualquer trabalhador ou trabalhadora.  As mulheres do campo correm o risco de não conseguirem se aposentar por conta das comprovações de contribuição em jornadas amplas e muitas vezes sem registro”, argumenta Elaine.

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Ativistas protestam contra os cortes de direitos/Foto: Catarinas

No sul do Brasil, diversas cidades organizaram protestos. De acordo com o portal de notícias Sul 21, Porto Alegre reuniu cerca de 10 mil na Esquina Democrática, no centro, que marcharam até o Largo Zumbi dos Palmares. Em Curitiba, conforme levantamento do portal de notícias Terra Sem Males, 20 mil pessoas também protestaram contra o desmonte da previdência social. Em Santa Catarina, ocorreram atos em Joinville, Jaraguá do Sul, Itajaí, Blumenau, Rio do Sul, Chapecó, Xanxerê, São Miguel do Oeste, Caçador, Pinhalzinho, Dionísio Cerqueira, Concórdia, Tubarão e Araranguá. “Demonstramos nas ruas que a classe trabalhadora não aceita a retirada de direitos e uma reforma da previdência que prejudica drasticamente trabalhadores. Não vamos aceitar retrocessos e já nos preparamos para novas mobilizações”, afirma Anna Julia Rodrigues, presidenta da CUT/SC.

Reforma da Previdência
A medida que tramita no Congresso Nacional como PEC 287 quer aumentar o tempo de contribuição para aposentadoria de 15 para 25 anos e ainda prevê cortes no Benefício de Prestação Continuada (BPC) que, em geral, favorecem as mulheres, responsáveis pelo cuidado com as crianças, com os deficientes e com os mais velhos. Ela propõe desvincular esses benefícios do salário mínimo, por exemplo.

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Mulheres serão as mais prejudicadas com a reforma da previdência/Foto: Catarinas

“A reforma é na prática o fim da aposentadoria para 80% da classe trabalhadora no Brasil. Nas condições de trabalho que temos hoje, contribuir por 49 anos é inviável. Se você não tiver 65 anos você não poderá se aposentar. Se você quiser se aposentar aos 65, será necessário ter 25 anos de contribuição. É humanamente impossível. A reforma trabalhista, também em discussão no congresso, retira e permite negociar direitos, o que diminui o trabalho com carteira assinada. Os atos de ontem demonstraram que temos capacidade de resistência para enfrentar essas reformas”, diz Elenira Vilela, professora do Instituto Federal de Educação (IFSC) e diretora do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação de Santa Catarina (Sinasefe/SC).

A reforma modifica o sistema, igualando a idade de contribuição entre homens e mulheres, o que desconsidera que as brasileiras trabalham cerca de 5,4 anos a mais que os homens, tratando com as mesmas regras, pessoas com situações diferentes. Cabe lembrar da tripla jornada feminina – o trabalho fora de casa, o trabalho doméstico e a maternidade – e que ela impacta diretamente na vida e na saúde das mulheres.

LEIA MAIS: ::Reforma da previdência é trágica para as mulheres

OUÇA: ::Catarinas em Debate – A reforma da previdência e o impacto na vida das mulheres

Calendário de Votação
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, da Reforma da Previdência, segue em tramitação na Câmara de Deputados. A previsão é de que a primeira votação aconteça até 6 de abril.

Veja mais imagens do protesto

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Fotos: Catarinas

Revolução Curda: autonomia popular e feminismo revolucionário – 30/03

Pelo Portal Entranhas.org

Nesse exato momento, no norte da Síria, nasce um mundo novo. Ele está brotando da experiência de homens e mulheres curdas, protagonistas de uma extraordinária revolução que tem a região de Rojava como epicentro. Correm no mundo imagens das mulheres do YPJ (Unidade de Defesa das Mulheres), grupo armado que fez fundamentalistas do Estado Islâmico pedirem arrego. A importância das mulheres na Revolução Curda não é apenas militar – o feminismo tornou-se um dos pilares centrais do processo emancipatório do povo curdo. A participação política direta é outro eixo central nesse processo revolucionário. Através de conselhos populares, o povo curdo nos oferece um novo sentido para a palavra democracia. A ecologia e o pluralismo radical completam a base sob a qual está sendo gerada essa experiência grandiosa.

Na medida em que o conservadorismo avança no Brasil, lamentar deixou de ser suficiente. Estancar o recuo e lutar pela manutenção de direitos não é o bastante. É preciso exigir o além, exigir o impossível.Olhar adiante, criar uma nova realidade em meio aos escombros. Rojava e as mulheres curdas são hoje um grande exemplo para nós.

Pensando nisso, o portal Entranhas.org convida a todas/os para uma roda de conversa sobre esse processo incrível de autonomia popular e emancipação feminina. Seguindo nosso propósito de estimular a análise política feita pelas vozes das mulheres, teremos como convidada Anelise Csapo, do Comitê de Solidariedade à Resistência Popular Curda de São Paulo.

O evento ocorrerá no dia 30 de março , às 18h30 no auditório do Sintrasem (Rua Fernando Machado, 203 – Centro), em Florianópolis.

Esperamos vocês lá! ♥

Observações importantes:

-Teremos café quentinho e venda de livros sobre o tema (tragam R$)!

-Para quem não está em Florianópolis: vamos tentar viabilizar um streaming pela nossa página do Facebook.

Quatro mulheres

Anita nasceu na serra no final dos anos 20, descendente de imigrantes Italianos trabalhava desde criança na venda ou no campo. Como oficio aprendeu a costura, como arte o crochê. Já “velha” para casar, conheceu um homem que por ela se apaixonou. Casamento? foi firme: só quando terminasse o curso de costura. Teve cinco filhos, que criou com disciplina e uma certa dureza. Teve salão de baile, cozinhou e costurou muito. Perdeu um filho muito jovem num acidente, e o companheiro, de melancolia, poucos anos depois. Ajudou a criar os netos, fez crochê para toda a família, cuidava da sua casa com orgulho. Viveu longos anos, sempre carregando no semblante um olhar altivo. Morreu com Alzheimer. Poucos dias antes de morrer, em um lapso de lucidez, disse ao neto mais novo “Lembra sempre de mim”.

Cora é filha de Anita. Seguiu o caminho dos estudos, com apoio de seu pai que lia muito e que acreditava em um mundo mais igualitário. Trabalhou na venda de um tio, onde aprendeu finanças. Se tornou Professora, acreditava que o conhecimento podia mudar o mundo. Viajou para longe, onde trabalhou em projetos sociais nos rincões do país. Se mudou para uma pequena cidade do interior e por lá montou um Jornal e uma Gráfica com os irmãos. Se apaixonou, mas não teve filhos. Perdeu seu grande amor em um acidente. Se formou em Jornalismo muitos anos depois de já exercer a profissão. Participa de um grupo de mulheres lideres e tem como legado o Jornal que criou, referência para a região e influência para as mulheres da família que decidiram seguir o rumo da tia.

Rosa é irmã de Cora. Saiu de casa com 12 anos e foi trabalhar na casa de um médico como babá da família. Sonhava em ser médica pediatra. Foi para a capital trabalhar na maternidade como recepcionista, para pagar o cursinho. Não passou no vestibular, mas descobriu que seu talento estava nas vendas. Vendia enciclopédias e revistas. Vendia tanto que ganhou um prêmio de melhor vendedora do país da editora para qual trabalhava. Se apaixonou e vivia uma vida nômade com seu companheiro. Gostava de independência e de praia. Teve um único filho. Montou uma empresa. Foi a primeira mulher a correr de carro no autódromo internacional da cidade. Tinha uma postura dura, as vezes até autoritária. Tinha que ser forte num mundo feito para homens, não podia demonstrar fragilidade, tanto é que todos a chamam de “Dona”. Criou seu filho com muito amor, mesmo com o pouco tempo que lhe sobrava. Se separou. Vive sozinha e mantém a empresa até hoje.

Ada era a única filha numa família de dois irmãos mais novos. Gostava de estudar e se interessava por informática. Quando criança, ganhou um computador de presente do seu pai. Trabalhou no comércio com 16 anos, queria independência e fazer faculdade de computação. Fez curso técnico em informática, onde ganhou a placa de melhor aluna. Queria trabalhar como programadora, mas todas as vagas de emprego diziam “somente homens”. Não tinha tempo para trabalhar e estudar, e deixou de lado a faculdade por um tempo. Trabalhou em uma empresa na área de suporte, onde se tornou gerente. Começou a fazer faculdade e comprou um apartamento próprio. Foi morar com o companheiro e nunca morou no apartamento que comprou. Queria ser programadora, largou o cargo de gerente para estagiar. Estagiou e se tornou uma programadora. Aprendeu a dirigir, algo que tinha muito medo, nutrido por muitos homens que a desestimulam. Depois que aprendeu, ensinou sua tia a dirigir. Era uma referência para a família. Se separou. Viajou de férias. Voltou e morreu meses depois num acidente de carro, muito jovem e talvez no melhor momento de sua vida.

Histórias de mulheres brasileiras e  “comuns”, que como tantas mulheres vivem e resistem em um mundo ainda tão desigual. Um mundo onde ainda é necessário um Dia Internacional da Mulher.

 

Relato de agressão da Policia Militar de Santa Catarina aos Foliões em Santo Antônio de Lisboa

Santo Antônio de Lisboa, madrugada de terça de Carnaval. Por volta das 2 e 30 da manhã acabava a noite de folia após um bonito desfile de 25 anos do bloco Baiacu de Alguém, que no seu samba enredo não se omitiu e narrou alguns dos problemas e lutas de Desterro: a falta de transporte público integrado, o plano diretor, a moeda verde, a luta pela Ponta do Coral e pela Ponta do Sambaqui.

Todos já estavam indo para casa, as últimas barraquinhas fechavam. Parado na rua de paralelepípedos onde antes só havia festa e folia vi a Policia Militar começar a se movimentar e fechar a rua, formando um bloco. Eram uns 15 policiais, uns 3 da cavalaria e o restante a pé. De uma hora para outra eles começaram a avançar pela rua, cassetetes em punho, marchando naquela formação típica de legião romana, tão comum de se ver em manifestações populares.

Eles não pediam licença, empurravam quem não saísse das ruas sem que as pessoas fizessem uma mínimo esboço de violência. Quando chegaram perto da igreja vi alguns Policiais agredirem um rapaz com cacetadas. Foi então que alguém puxou o coro do “Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Policia Militar”, que foi ecoado por muitos na praça. Um Policial foi até uma menina que gritava as palavras de ordem e começaram uma discussão. Um tempo depois senti os olhos lacrimejando, pois começaram a borrifar gás de pimenta na praça, como se estivessem dedetizando o lugar.

Na volta para o carro escutei um relato de um rapaz que contou que jogaram spray de pimenta próximo aos banheiros químicos com gente dentro. Minha amiga, moradora do bairro me contou que todo ano é a mesma coisa. Que a Polícia atua desta forma para “encerrar” a festa, e que foi embora dali logo que percebeu a movimentação dos “homens da lei”.

Foram cenas lamentáveis e desnecessárias de brutalidade e estupidez do Estado. Qual a finalidade desta brutalidade? Se os organizadores sabem que isso acontece todos os anos, por que não se manifestam? O clima de insegurança em outros anos justifica tamanha agressividade?

Em temerários tempos de “Ordem e Progresso” os blocos de rua do Carnaval, essa festa anárquica por excelência seguem sendo um incomodo para ordem vigente. Mesmo em tempos em que uma única marca de cerveja compra a cidade por alguns dias, em tempos de cercadinhos em espaços públicos, de pulseirinhas VIPs, de peixadas e feijoadas de gente besta e esnobe.

Como diria Leminski: “Ainda vão me matar numa rua. Quando descobrirem, principalmente, que faço parte dessa gente que pensa que a rua é a parte principal da cidade”.

Bomba relógio

Brasil, Espírito Santo e Florianópolis. Em comum o PMDB no poder e o ajuste fiscal estalando feito chicote no lombo do povo. A solução para enfrentar os problemas sociais gerados pela tal aplicação da “lição de casa” da direita? Porrada e uma pesada máquina de propaganda da grande mídia.Temer mandou o exército para o Rio e para o Espírito Santo fazer função de policia, enquanto diversos policiais militares estão sendo processados e exonerados. Em Florianópolis a greve de mais de 30 dias dos trabalhadores do município (incluindo saúde e educação), que tiveram seu plano de carreira destroçado por Gean, é combatida com duras punições vindas do judiciário e muita porrada e gás de pimenta da guarda municipal, além de muita manipulação e pressão da RBS.

A pergunta que me faço é: até quando vão conseguir conter essas pressões com base na força bruta com governos tão impopulares? Com a PEC55 em vigor, como vão conter as centenas de reivindicações trabalhistas pipocarem pelo país? Como vão empurrar goela abaixo do povo uma reforma trabalhista e uma da previdência que retiram tantos direitos? A bomba já está explodindo, e nem estamos ainda no carnaval.

A briga dentro do Golpe

Alguns pitacos, Operação Abafa a Jato em curso: O editorial do Estadão malhando o Dallagnol, o Gilmar Mendes reclamando com um certo “atraso” das longas prisões preventivas da República de Curitiba, a indicação de Moraes e a revolta de agentes da PF contra o diretor-geral mostram que parte do status-quo se volta contra a operação. Afinal, ela já atingiu parte de seus objetivos: derrubar o governo eleito, destruir o PT e aniquilar a imagem pública da Petrobras, abrindo caminho para as privatizações e desmanche da política de conteúdo nacional. Só não conseguiram prender o Lula ainda, para garantir que se elegem em 2018. Levar a operação em frente agora vai levar todo o governo Temer e praticamente todos os partidos para o buraco e ferrar ainda mais a economia.

A ordem agora é segurar a onda para que consigam aprovar rapidamente a reforma da previdência e trabalhista, já que a PEC55 já passou. Resta saber até quando setores do Judiciário e da Policia Federal vão aguentar quietos, e até quando os grandes egos da República de Curitiba vão aguentar sem o brilho dos holofotes. Pode ser que a briga dentro do golpe traga bons frutos e escancare de vez toda a podridão, jogando mais lenha na fogueira.